Esta noite quase não dormi. Cinco vezes na madrugada fui acordado por uma Saveiro preta, placa... hummm... deixa pra lá... com uma caçamba cheia de alto-falantes atrás e uma cabeça vazia ao volante. Era mais um iPod gigante e compulsório, fazendo os moradores do bairro correrem velozes e furiosos fechar suas janelas.
Além de acordar o quarteirão, o iPodmóvel acordava também os alarmes dos carros, o que ampliava o ruído já insanamente amplificado. Será que a criança não tinha fones de ouvido? Hummm... talvez não tenha encontrado um para o tamanho de sua cabeça. No catálogo da Barbie, talvez...
Quando falta atenção, talento ou capacidade, o caminho mais curto é comprar algo que supra essa carência. Governos criam impostos compulsórios para compensar a má versação dos impostos convencionais - alguém aí falou em CPMF? Serial-killers compram armas para matar compulsoriamente quem não quer morrer. Crianças se debatem no chão e, depois que crescem, compram Saveiros para transformá-las em iPods compulsórios e chamar atenção.
Mas o que é mesmo compulsório? Meu "Orélho", versão informal do outro, diz que "compulsório é tudo aquilo que é socado garganta adentro", como se faz com aguardente em peru de Natal e ração em ganso de "foie gras", aquele fígado doente e cirrótico de passar no pão.
Há também os mercados fechados e compulsórios para proteger a falta de competitividade ou vender inutilidades. Eu ainda tenho um kit de primeiros socorros em meu carro, e você? E existem até sociedades reservadas, para garantir a sobrevivência da incompetência, tipo eu só compro de você e você só compra de mim.
O problema do compulsório é que é transitório, nunca dá resultado, e só agrada alguns poucos, no meu caso, só um: o "DJ de Saveiro" carente de platéia.
Você se lembra da reserva compulsória do mercado de informática no Brasil? Enquanto outros países importavam e recebiam transferência de tecnologia para criar uma base industrial, aqui o contrabando e a maquiagem "nacional" corriam soltos. Você deve se lembrar, foi no tempo em que nossas carroças eram protegidas da ameaça dos automóveis importados.
O fenômeno que hoje se chama China só ocorreu porque os chineses decidiram abrir os olhos e uma fresta no isolamento, que tinha por pretexto proteger seu mercado, seu comunismo e sua sociedade. Outros países da Ásia vieram atrás, e agora até o Vietnã desponta como segundo produtor mundial de café, deixando o café brasileiro mais amargo de se comprar, um problemão para mim, que hoje devo tomar umas dez xícaras para trabalhar. É que o baixo custo vietnamita puxou os preços globais para o seu terreiro.
Mas nenhuma abertura nas reservas, barreiras e fronteiras sacudiu tanto o mundo quanto a União Européia. Não foi fácil. Ou era o Pierre querendo proteger seus queijos e vinhos, ou o Giovanni endurecendo na hora de abrir mão do grano duro, ou o Fritz se recusando a engolir qualquer cerveja que não fosse fabricada segundo a receita compulsória alemã: água, lúpulo, malte, fermento e só.
Agora que a casa caiu nos EUA, a Europa ficou ainda mais forte e sua moeda promete substituir a hegemonia do dólar no mercado mundial. Barreiras visíveis desaparecem, algumas mudam de mãos, mas outras invisíveis são levantadas. Hoje a Europa já manda na indústria norte-americana, que fabrica segundo as normas européias, mais rígidas, para poder vender na União Européia sem precisar fabricar duas vezes, uma para lá, outra para cá.
Eu me lembro de ter levado bronca na Europa por causa da rigidez de suas leis. Uma, por só ter reduzido a marcha, sem parar, em uma esquina de duas estradinhas com visibilidade de quilômetros. Lá as placas "PARE" são feitas para você parar. Outra, por ter buzinado na Inglaterra, algo que você não faz nem que a rainha corra o risco de ser atropelada. Lá a lei do silêncio é rigorosa.
Espero sinceramente que essa lei um dia chegue aqui para eu poder dormir. Se não chegar e continuar aceitável que qualquer um produza seu som compulsório nas madrugadas, até eu vou aderir. Não, eu não pretendo comprar uma Saveiro "tunada" e nem perder meu tempo zanzando por aí de madrugada. Vou "tunar" a sacada de meu apartamento: iluminar com neon, regar as plantas com nitro e enchê-la de alto-falantes ligados a um microfone em meu criado-mudo. O som? Nem rock, nem axé, nem hip-hop. Eu ronco!
Além de acordar o quarteirão, o iPodmóvel acordava também os alarmes dos carros, o que ampliava o ruído já insanamente amplificado. Será que a criança não tinha fones de ouvido? Hummm... talvez não tenha encontrado um para o tamanho de sua cabeça. No catálogo da Barbie, talvez...
Quando falta atenção, talento ou capacidade, o caminho mais curto é comprar algo que supra essa carência. Governos criam impostos compulsórios para compensar a má versação dos impostos convencionais - alguém aí falou em CPMF? Serial-killers compram armas para matar compulsoriamente quem não quer morrer. Crianças se debatem no chão e, depois que crescem, compram Saveiros para transformá-las em iPods compulsórios e chamar atenção.
Mas o que é mesmo compulsório? Meu "Orélho", versão informal do outro, diz que "compulsório é tudo aquilo que é socado garganta adentro", como se faz com aguardente em peru de Natal e ração em ganso de "foie gras", aquele fígado doente e cirrótico de passar no pão.
Há também os mercados fechados e compulsórios para proteger a falta de competitividade ou vender inutilidades. Eu ainda tenho um kit de primeiros socorros em meu carro, e você? E existem até sociedades reservadas, para garantir a sobrevivência da incompetência, tipo eu só compro de você e você só compra de mim.
O problema do compulsório é que é transitório, nunca dá resultado, e só agrada alguns poucos, no meu caso, só um: o "DJ de Saveiro" carente de platéia.
Você se lembra da reserva compulsória do mercado de informática no Brasil? Enquanto outros países importavam e recebiam transferência de tecnologia para criar uma base industrial, aqui o contrabando e a maquiagem "nacional" corriam soltos. Você deve se lembrar, foi no tempo em que nossas carroças eram protegidas da ameaça dos automóveis importados.
O fenômeno que hoje se chama China só ocorreu porque os chineses decidiram abrir os olhos e uma fresta no isolamento, que tinha por pretexto proteger seu mercado, seu comunismo e sua sociedade. Outros países da Ásia vieram atrás, e agora até o Vietnã desponta como segundo produtor mundial de café, deixando o café brasileiro mais amargo de se comprar, um problemão para mim, que hoje devo tomar umas dez xícaras para trabalhar. É que o baixo custo vietnamita puxou os preços globais para o seu terreiro.
Mas nenhuma abertura nas reservas, barreiras e fronteiras sacudiu tanto o mundo quanto a União Européia. Não foi fácil. Ou era o Pierre querendo proteger seus queijos e vinhos, ou o Giovanni endurecendo na hora de abrir mão do grano duro, ou o Fritz se recusando a engolir qualquer cerveja que não fosse fabricada segundo a receita compulsória alemã: água, lúpulo, malte, fermento e só.
Agora que a casa caiu nos EUA, a Europa ficou ainda mais forte e sua moeda promete substituir a hegemonia do dólar no mercado mundial. Barreiras visíveis desaparecem, algumas mudam de mãos, mas outras invisíveis são levantadas. Hoje a Europa já manda na indústria norte-americana, que fabrica segundo as normas européias, mais rígidas, para poder vender na União Européia sem precisar fabricar duas vezes, uma para lá, outra para cá.
Eu me lembro de ter levado bronca na Europa por causa da rigidez de suas leis. Uma, por só ter reduzido a marcha, sem parar, em uma esquina de duas estradinhas com visibilidade de quilômetros. Lá as placas "PARE" são feitas para você parar. Outra, por ter buzinado na Inglaterra, algo que você não faz nem que a rainha corra o risco de ser atropelada. Lá a lei do silêncio é rigorosa.
Espero sinceramente que essa lei um dia chegue aqui para eu poder dormir. Se não chegar e continuar aceitável que qualquer um produza seu som compulsório nas madrugadas, até eu vou aderir. Não, eu não pretendo comprar uma Saveiro "tunada" e nem perder meu tempo zanzando por aí de madrugada. Vou "tunar" a sacada de meu apartamento: iluminar com neon, regar as plantas com nitro e enchê-la de alto-falantes ligados a um microfone em meu criado-mudo. O som? Nem rock, nem axé, nem hip-hop. Eu ronco!
http://www.youtube.com/watch?v=R9AQPwcKeRo
The Natural Step: a História de uma Revolução Silenciosa KARL-HENRIK ROBERT The Natural Step é o impressionante relato de uma revolução silenciosa, iniciada na Suécia e hoje espalhando-se pelo mundo todo. É uma revolução que influenciou inúmeras pessoas, governos, universidades e empresas no sentido de levarem a sério o destino da Terra e as suas atividades. Para o universo corporativo especialmente, o assunto também tem a ver com as novas condições para ser bem-sucedido no mercado do século XXI, em que a sustentabilidade social e ecológica rapidamente dita as regras do jogo. Esta é a história de uma nova maneira de ver as coisas, uma maneira mais eficaz de dialogar para chegar a um mundo sustentável, e do homem que está por trás de uma das mais promissoras organizações dos nossos tempos. |
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