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Quanto tempo o tempo tem?

A escala no Rio de Janeiro promete ser rápida. Os passageiros que saem, saem rápido, e os que entram, entram depressa. De repente, um sinal de alerta. Uma agitação em meu ventre revela mais um passageiro querendo desembarcar.



Será "Alien, o Oitavo Passageiro"? Ou é a moqueca capixaba de ontem, ansiosa para botar o bloco na avenida? Ou, talvez, o amendoim, que comi agora há pouco, brincando de abre-alas? A fila dos que embarcam passa a andar em câmera lenta. A bela atriz, que mandava a gente fazer um 21, passa logo ali, e nem ligo. Minha atenção está toda concentrada na porta-bandeira.

Encolhido na poltrona da janela de um avião prestes a decolar, para mim o banheiro já não é uma opção. Penso em outro filme, "A soma de todos os medos", e procuro não tossir.

O piloto anuncia: "Portas fechadas em automático". "DEIXA EM MANUAL! DEIXA EM MANUAL!", grito em pensamento. Quero ter o controle das portas.

O avião se move na pista e a aeromoça manda apertar os cintos. Eu, hein? Nunca prestei tanta atenção na localização das saídas de emergência, e quase peço para ela repetir a parte da máscara de oxigênio. Quero ter certeza de que os passageiros entenderam.

Sabe quantos buraquinhos e pedrinhas há na pista do Galeão? Eu sei. Enquanto o avião vai taxiando, eu vou contando. Na cabeceira da pista o piloto começa com aquela conversa mole de que precisa aguardar a ordem da torre para decolar, e coisa e tal. Pego meu celular para ligar para a torre, mas o avião acelera.

Decolamos. Enquanto eu penso nos efeitos que a pressurização pode ter sobre meu corpo, não tiro os olhos do aviso de apertar os cintos. "APAGOOOL!", quase grito entusiasmado.

Atropelo os dois passageiros ao lado e disparo em direção ao banheiro dos fundos. Estou quase lá, quando um jovem resolve se levantar e tirar bolsas, malas e mochilas do porta-bagagem, em busca de seu laptop. Enquanto ele decide a melhor maneira de recolocar tudo no lugar, eu espero em pé, ao lado da atriz sentada na poltrona do corredor.

"Se ela me mandar fazer qualquer número agora, vai ser uma tragédia", penso comigo. Me tranqüiliza saber que meu problema é considerado "boa sorte" por gente de teatro.

O rapaz está indeciso se coloca primeiro a bolsa ou a mochila. Para ele aquela indecisão acontece num lapso de segundo. Para mim é uma eternidade, porque nem todos percebem o tempo da mesma maneira.

Pessoas monocrônicas fazem uma coisa de cada vez, levam agendas a sério e se dão bem com relacionamentos de curto prazo. Pessoas policrônicas, por sua vez, fazem um monte de coisas ao mesmo tempo, nunca chegam no horário e constroem relacionamentos para a vida toda. Para as policrônicas, pode levar o tempo que for. Para as monocrônicas, cada minuto conta. Neste momento sou monocrônico e não abro.

Quando você negocia com um norte-americano ou alemão, o tempo gasto com amenidades é muito curto. Eles querem ir direto ao assunto, porque tempo é dinheiro. Mas se o outro for mexicano ou árabe, você só vai conseguir falar de negócios amanhã ou depois. Para essas culturas, é o relacionamento que importa.

Nem precisa sair do país para perceber isso. Coloque um paulista da capital e um baiano para negociarem e você vai perceber essa diferença. Não se trata de certo ou errado, melhor ou pior, mas de diferenças culturais na percepção do tempo. Se o baiano souber manipular o tempo vai fazer o melhor negócio, porque vai ficar falando de amenidades até o paulista se irritar e comprar ou vender pelo preço que for.

É preciso entender isso quando se atua na diversidade de um mundo globalizado, onde você interage com pessoas de baixo e alto contexto. Enquanto você corre ao Google para saber o que é "alto contexto" e "baixo contexto", eu corro ao banheiro para baixar o contexto, porque o rapaz do bagageiro terminou.

De repente descubro que a percepção do tempo também varia conforme as circunstâncias. Eu, que há pouco, era monocrônico, me transformo imediatamente em policrônico. Sentado aqui, o tempo já não importa. Desfruto deste momento sublime, torcendo para que dure uma eternidade. A escola de samba desfila majestosa, ao som da bateria.

Tomara que o avião atrase, que o tráfego aéreo engarrafe, que a Infraero mude o aeroporto de Viracopos para Macapá. "Daqui não saio, daqui ninguém me tira", eu canto em pensamento. De todas as preocupações, só me resta uma: o detector de fumaça.


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Previsivelmente Irracional
DAN ARIELY
Sabe por que é tão comum prometermos a nós mesmos que vamos fazer dieta, mas essa idéia desaparece assim que chega a sobremesa? Sabe por que nos surpreendemos comprando coisas de que não precisamos? Sabe por que continuamos com dor de cabeça depois de tomar uma aspirina de cinco centavos, mas essa mesma dor de cabeça desaparece quando a aspirina custa 50 centavos?
Ao concluir a leitura deste livro, você saberá responder a estas e a muitas outras perguntas que têm implicações na vida particular, na vida profissional e no modo como encaramos o mundo. O livro o ajudará a repensar a fundo a forma como você e as pessoas em sua volta agem. Por meio de uma série de experiências divertidas e surpreendentes, Dan Ariely demonstra que a nossa capacidade de raciocínio tem defeitos provocados por forças invisíveis - emoções, relatividade, expectativas, apego, normas sociais - que nos induzem a fazer escolhas "Previsivelmente Irracionais".



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E a gorjeta, doutor?

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