Você já quis ser invisível? Eu também. A primeira vez foi quando um menino prometeu me esperar no portão da escola para bater em mim. Nem comi o lanche, achando que podia sair de perfil sem ser visto. Naquela época teria sido bom, mas agora está sendo um pesadelo. Ontem descobri que estou invisível.
Eu já conhecia o poder do Google, mas não imaginava que pudesse me fazer desaparecer. Ele pode, acredite. Se buscar por mim, eu sumi. Bem, se procurar por meu nome, ainda vai me achar em... deixe-me ver... tec-tec-tec... 27.200 lugares. Mas são páginas de terceiros que publicam meu nome, mas meu site está invisível. Pelo menos no Google.
Tudo começou com um e-mail que recebi ontem do Google Search Quality Team:
"Detectamos que algumas de suas páginas utilizam técnicas que infringem nossos parâmetros de qualidade. Para preservar a qualidade, removemos temporariamente essas páginas de nossos resultados. No momento as páginas mariopersona.com.br foram agendadas para remoção por um período de pelo menos 30 dias".
O que significa? Bem, significa que posso tirar 30 dias de férias, porque das 50.539 pessoas que me visitaram nos últimos 30 dias, 47.164 vieram através do Google. Se fizer uma continha verá que precisarei de 15 dias para receber o número de visitantes que recebia em um dia. Recebia, até ontem.
Vaias para o Google? Não, palmas para o Google. Se não existisse um critério assim, todas as suas buscas acabariam em sites oferecendo Viagra, emagrecedores, ou uma parceria nos 50 milhões de dólares deixados por algum ditador africano morto. Sem falar naquela seqüência de páginas eróticas que abre quando você clica em um link que não devia, e você tenta desesperadamente fechar antes que seu chefe veja. O submundo dos spammers ganharia os primeiros lugares nas buscas.
Sou tão velho na Internet, que quando comecei, se alguém dissesse "Google" ia escutar coisas do tipo "Saúde!", "Deus te crie", "Não arrota na mesa, menino!". O serviço simplesmente não existia. Os sites de busca da época eram movidos a manivela e não passavam de diretórios ou listas de links acrescentados manualmente.
Depois vieram os robôs automáticos, nem de longe tão sofisticados quanto o Google atual. Eram tão míopes que, se você quisesse ser achado e ter sua página indexada, era preciso encher seu site de palavras-chave. Ou ficaria invisível, como estou agora.
Hoje o Google é inteligente o suficiente para classificar seu site por critérios de relevância complexos e secretos, mas que certamente não se baseiam meramente nas palavras-chave como faziam os buscadores antigos.
Meu site atual tem quase dez anos, e eu mesmo o fiz aproveitando velhos códigos html e técnicas de outros sites que tinha antes. De lá para cá só acrescentei conteúdo e mudei o visual, retocando minhas fotos para parecer mais jovem. Nos bastidores tudo continuava igual, inclusive o excesso de palavras-chave. Continuava, até ontem.
Passei a madrugada fazendo uma lipoaspiração nas mais de 800 páginas de meu site para extrair toda a gordura. Depois corri avisar o Google que já fiz a lição de casa. Agora é esperar.
Longe de mim querer ludibriar o sistema. Há muito eu já tinha percebido que o excesso de palavras-chave não fazia efeito algum na colocação que minhas páginas alcançavam nas buscas. A relevância vinha mesmo do conteúdo e dos milhares de sites que publicam minhas crônicas e entrevistas, e apontam para mim. O QI, ou "quem indica", é um dos critérios do Google.
Outra coisa que descobri foi que a maioria dos visitantes são estudantes, não clientes. As principais páginas de entrada são as de entrevistas, cuja íntegra eu publico no site depois que os jornais e revistas publicam apenas uma ou duas frases minhas. Qualquer um que me visite irá perceber que não vendo Viagra, não herdei uma fortuna na Nigéria, e não consigo emagrecer nem a mim mesmo.
Se você leu até aqui com profundo interesse, anotando tim-tim por tim-tim tudo o que me deixou invisível para tentar obter o mesmo efeito, vou logo avisando: a técnica não funciona para o Imposto de Renda.
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Desapareci!
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