O Houaiss define "ambíguo" como algo que desperta dúvida, incerteza. É vago, obscuro, indefinido, admite interpretações diversas e até sentidos contrários. Algo cuja resposta pode não ser nem sim, nem não, muito pelo contrário. Entendeu? Nem vai.
Há, todavia, um lado menos nefasto da ambigüidade. Quando crianças, brincávamos de enxergar carneiros nas nuvens. Para a escola racional, não passavam de nuvens e nos mandaram parar de ver nuvens passar para prestar atenção na equação.
Hitler tinha dificuldade em lidar com a ambigüidade. Para ele nada podia ser menos do que perfeito, ao seu próprio jeito. Para deixar as coisas assim, eliminava imperfeições na marra. Na arquitetura nazista, bastava incluir uma janela na fachada esquerda, simétrica à da direita, e tudo ficava lindo.
O mesmo fez com as artes. Como não podia eliminar as nuvens, eliminou quem pintasse, escrevesse ou fizesse filmes que dessem margem a mais de uma interpretação. Tentou fazer o mesmo com as imperfeições humanas.
Das circunstâncias, Aristóteles dizia que "é provável que o improvável acontecerá". Nos negócios, então, nem se fala. Mas vou falar um pouquinho. Saber trabalhar em ambientes de incerteza e ambigüidade é vital. Nada é 100% previsível nem 100% controlável. Em tudo há risco, para tudo há de se ter intuição e criatividade.
Devemos nos adaptar às circunstâncias que não podemos mudar e administrar as que pensamos poder. Com cuidado, com as ferramentas certas para abordar as ambigüidades e o mau tempo do clima organizacional.
Costumo estimular o pensamento criativo e a tolerância para com a ambigüidade em ambientes de incerteza e risco, mas nem sempre consigo. Há quem não seja capaz de enxergar além dos padrões arraigados em seu cérebro. Foi o que ocorreu quando usei um filme em um workshop para engenheiros.
A cena de "A Lista de Schindler" mostrava o personagem na conquista de seu futuro mercado, a oficialidade nazista em um bar. Ele dá generosas gorjetas ao garçom para aproximar as dançarinas dos oficiais menores e servir bom vinho aos de alto escalão. Minha intenção era mostrar que devemos identificar e atender necessidades e desejos dos clientes, tipificadas por dinheiro, prazer e prestígio. Era minha versão light de Maslow. Um dos presentes levantou a mão.
- Não concordo que precise subornar alguém, incitar a prostituição ou embriagar o cliente para vender - disse com firmeza. Fiquei esperando que criticasse também o ambiente nazista da cena, mas pelo jeito não tinha nada contra.
Saí horrorizado só de pensar na interpretação que alguns conseguem dar ao que ensino. Pessoas que nunca brincaram de enxergar carneiros nas nuvens por só pensar com o hemisfério esquerdo da razão. Gente que só acreditará em Adão se um dia o Discovery Channel mostrar um fóssil sem umbigo.
Imediatamente lembrei de outro workshop e gelei! É que lá ensinei estratégia usando a cena da batalha de "Coração Valente". E se amanhã eu abrir o jornal e a manchete gritar: "GERENTE PROMOVE BANHO DE SANGUE EM EMPRESA"? Vou preso como mentor intelectual do crime. Eu e o Mel Gibson.
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Coração Valente (Braveheart) - CATHERINE MCCORMACK, MEL GIBSON, PATRICK MCGOOHAN, SOPHIE MARCEAU Dirigido e estrelado por Mel Gibson, este épico narra a audaciosa saga sobre a brutal batalha pela independência da Escócia no Século XIII. Quando a esposa de William Walace (Mel Gibson) é brutalizada e assassinada pelas tropas inglesas, sua busca por vingança rapidamente transforma-se em uma apaixonada luta pela liberdade de seu país. As lendas que contam a bravura de Walace inspiram os cidadãos comuns a pegarem em armas contra os ingleses e transformam sua cruzada em uma guerra de grandes proporções. Coração Valente é um épico histórico carregado de emoções como paixão, traição e coragem, uma verdadeira conquista na história do cinema. |
Muito interessante a postagem!!!
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