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Afinal, quem é Persona, eu ou você?

Um amigo comentou uma crítica do colunista da VEJA, Diogo Mainardi, sobre... bem, qualquer coisa que ele tenha criticado, não importa o quê. Por que não importa? Porque é a forma, não o conteúdo, o meu assunto aqui. E neste caso tudo se resume numa só palavra: Persona. Eu? Não, a máscara. Aquela do símbolo do teatro, ora triste, ora alegre.

Diogo criou sua persona porque gostamos do doce humor, mas também queremos o azedo furor. Assim sensibiliza amigos e inimigos com drama, romance e comédia. Vive de fazer arte com sua arte na grande mídia, onde o que não sangra não vende. Então não leio um jornalista, leio um artista.

Divirto-me com seu estilo, aprendo com seu raciocínio, desvendo as suas premissas. E a cada dia fico mais desconfiado de tudo o que leio ou escrevo. Porque assim como adotamos papéis na sociedade, o escritor também adota uma persona que é de rir, chorar ou apaixonar.

O colunista é tendencioso? Oras, não há quem não seja, principalmente comentaristas. Achamos a imprensa legal se for imparcial, o que é impossível uma vez que se escolheu o que publicar ou não já tomou partido, já é meteu a mão.

Há quem pergunte se minhas histórias são reais ou inventadas. Todas são reais, todas inventadas. Como assim? Bem, eu as pego reais em branco e preto, trabalho as cores, amplio os detalhes e crio a moldura. Enquanto vou perguntando, como faz o oculista, "Melhor assim ou assim?", troco as lentes dependendo da resposta dos clientes. Como nos filmes que avisam: "Baseado em fatos reais". É só baseado.

A diferença entre um escritor, um ator e você está só no público que quer impressionar. No trabalho você é uma persona, na escola é outra, na casa da sogra a máscara fica ainda maior em início de namoro. Ou você não se lembra do primeiro jantar e do que disse da língua com quiabo que a mãe da musa serviu? Delicioso!

Uma vez escrevi sobre Bree, o fenômeno LonelyGirl15, a adolescente que cativou milhões com sua novelinha na telinha. Algum tempo depois a suposta "Bree" revelou sua real persona, quiçá outra, chamada Jessica Lee Rose. Uma garota querendo ser atriz, criada por dois garotos querendo ser cineastas. A julgar pela audiência, agora são.

Milhões de adolescentes se decepcionaram com a revelação, mas o que se espera de atores, roteiristas e diretores? Que sejam convincentes. Quer mais convincente do que ter feito o mundo pensar que a trama era real? Sabe o que acontece agora se um deles bater na porta do cinema ou da TV? É atendido na hora. Sabe quanta gente está batendo por aí de currículo debaixo do braço?

É por isso que é preciso criar a persona que irá convencer seu mercado a querer o que você tem para oferecer. Mas sua persona precisa ser real o suficiente para encontrar uma cara metade no público, como fez LonelyGirl15 no papel em que muita menina gostaria de atuar e muito menino de namorar. Convenceu.

Mas esse atuar é um contrato de mão dupla. Se a anfitriã perguntar se estou gostando da festa com música alta e comida horrível, as convenções sociais exigem que minha persona do momento diga que sim. Ela sabe que só fui delicado. Eu sei que ela sabe. Nós dois sabemos. Mas podem ocorrer equívocos.

Já idoso, o comediante Milton Berle se apresentava em um asilo na Flórida, achando que ali fosse famoso. Uma senhora desdenhou de suas piadas e ele, indignado, contestou:

-- Por acaso a senhora sabe quem eu sou?

-- Não, mas se você perguntar na recepção tenho certeza de que eles poderão ajudar.



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No Tempo em que a Televisão Mandava no Carlinhos... - RUTH ROCHA

O Carlinhos tinha mania de ir atrás de tudo o que aparecia na televisão: achocolatado da Miúcha, milquecheique do Bubu, biscoito do Xuxu. Tudo o que ele via anunciado pela televisão ele queria... Acho que ele nem sabia se era gostoso ou se era uma porcaria. Era só mania de ir atrás do que a televisão diz. Aí, aconteceu que engordou e ficou parecendo uma bola.

O Carlinhos era chamado de “Bola, Bolinha, Bolão, Bolacha, Gordo, Batata”. Quando viu um anúncio de uma tal de Gororoba Dois Mil para emagrecer, encomendou rapidinho. Emagreceu...só que depois ficou doente e deu um susto na família toda. No final do livro: O Pequeno Dicionário do Consumidor - com termos utilizados na TV, rádio, jornais e revistas. Do livro: “É crime criar propagandas ou anúncios que se aproveitem da falta de experiência da criança, desrespeitem valores ambientais ou que levem o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.”


E a gorjeta, doutor?

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