O coelho é um mamífero que põe ovos de chocolate. Como pode ser ovíparo e mamífero? Bem, ele põe ovos de chocolate ao leite. Se acha estranho, imagine o ornitorrinco, mamífero que põe ovos, e tem bico e nadadeiras de pato! Antes que me pergunte, os ornitorrincos não são parentes dos otorrinos, que são mamíferos, mas não põem ovos.
Pode tirar da cabeça a idéia de colocar um ovo de páscoa para chocar. Vai derreter e não vai nascer coelho algum. Ninguém explica como é que o coelho, que só põe ovos nesta época do ano, consegue procriar tanto. Um amigo que criava coelhos dizia que nunca sabia quantos tinha em sua criação. Quando terminava de contar precisava recomeçar.
Nesta época os coelhos trabalham pra valer. Em 2006 foram mais de 20 toneladas de ovos gerando 25 mil empregos. Em 2007 a expectativa é de faturar mais de 600 milhões de reais. Incluí estes números aqui porque você pode querer ler minha crônica no trabalho e números sempre dão cara de coisa séria. Seu chefe vai pensar que você está se informando.
É estranha essa simbiose entre a indústria e o coelho, pois este ajuda a indústria a vender ovos, mas a indústria não está nem aí para ajudar a vender coelhos. Quem quer comprar coelhos? O açougue, oras. Você não sabia que, apesar de não sair de casa sem quatro pés de coelho, o azarado animal sempre acaba virando guisado e casaco de peles? Já comi coelho, mas não comi tranqüilo. Sempre tinha a impressão de que iria encontrar um pelinho.
Nem todo coelho põe ovos. O Tambor, por exemplo, amigo do Bambi, só fica batendo o pé. Mas é um coelhinho simpático, do bem. Já o Pernalonga é sacana, vive aprontando. Ambos têm toca em Beverly Hills, trabalham em Hollywood e ajudam a vender filmes. O coelho da páscoa, coitado, nem nome tem. É explorado.
Mas o coelho não é o único animal usado sem qualquer pudor para promover alguma coisa. Nos Estados Unidos o elefante ajuda a promover os republicanos e o burro promove os democratas. Lá burro deve significar outra coisa, porque aqui nenhum partido político iria querer ser promovido por um burro.
A idéia de usar o coelho e seus ovos está na imagem de fertilidade que dão ao conceito de páscoa que a cristandade emprestou do paganismo. Na religião celta havia uma deusa-lebre que botava ovos para as crianças bem comportadas. Era Eostre, deusa da fertilidade, das lebres, dos ovos e da primavera, parente da Ishtar dos acádios, Asterote dos filisteus, e Astarte dos gregos.
Na cultura original judaico-cristã, a palavra “páscoa” significava que a morte podia “passar por cima” e poupar quem já tivesse providenciado um sacrifício, um cordeiro para morrer em seu lugar. Era símbolo de morte, não de fertilidade.
Mas quando o negócio é vender, qualquer coelho serve. Se conseguir vender pilhas de ovos a toque de bumbo, melhor ainda. Êpa! Acho que misturei os coelhinhos.
O coelho não apenas vende ovos, como também ajuda a indústria do chocolate a livrar a cara. Num Brasil a quarenta graus, o que não falta nos postos de saúde nesta época do ano é fila de crianças com urticária e alergia. Culpa de quem? Do coelho, é claro. Alergia ao pelinho.
Agora, falando sério, eu diria que dificilmente um coelho conseguiria por um ovo desses de quase um quilo que a gente vê nos supermercados. Existe uma incompatibilidade anatômica e, ainda que os bichinhos se esforçassem, jamais sairia oval. No máximo oblongo.
Acho que a Sociedade Protetora dos Animais deveria interferir nessa história de usar coelhos para produzir ovos de páscoa. Ou, pelo menos, regulamentar a profissão do coelho e obrigar a indústria a alterar a fórmula da ração, para produzir ovos mais macios e confortáveis. Mesmo assim, para o bem dos coelhos, acho que um ovo deveria ser terminantemente proibido. O ovo crocante.
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