Eu estava na pequena agência dos correios da pequena estância hidromineral onde passava minhas férias quando pequeno. Fiz uma parada rápida ali a caminho de um cliente na cidade seguinte para matar a saudade e postar um sedex.
Aquele exagero de pontos de luz em um ambiente pouco maior que minha sala chamou minha atenção, provavelmente por ser arquiteto de formação e curioso por vocação.
O curso de arquitetura me ensinou a observar os detalhes e a pensar em 3D, coisas que me ajudam até hoje. Disso depende o pensamento estratégico em qualquer atividade que eu exerça e ainda posso ouvir meu professor dizendo:
"Prédios não têm fachada, não têm frente nem fundos, todos os lados precisam ser pensados".
Vale para qualquer negócio. A arquitetura me ensinou também a tomar o ser humano como ponto de partida e destino de todo projeto. Só faltou uma coisa no curso de arquitetura, algo que todos os cursos ficam devendo a seus alunos: ensinar a vender.
Por não ter aprendido marketing saí da faculdade com uma visão hermética, purista e elitista: só eu seria capaz de saber o que era melhor para meu cliente e pouco me importava se ele entendia ou não o valor e a razão da minha profissão. Caí no mercado com uma visão equivocada do que é ser arquiteto.
Mas se eu, que estava dentro, tinha uma visão equivocada, o que esperar de quem está fora? Pergunte a qualquer pessoa o que um arquiteto faz e, deixando de fora os que ficarão mudos, você terá um rosário de definições, algumas nem um pouco politicamente corretas.
A maioria vai concluir que arquiteto é um luxo desnecessário. Arquiteto? Pra que? Basta levar o esboço feito pela patroa em papel de pão e aquele despachante da esquina passa a limpo e ainda obtém a aprovação da planta. Nada que uma caixa de cerveja não resolva.
Mas, na real, o que é arquitetura e o que faz o arquiteto? Fiz uma busca no Google e fiquei petrificado como a definição de Goethe: "Arquitetura é música petrificada". Le Corbusier definiu a arquitetura como "o magistral, magnífico e correto jogo de volumes trazidos à luz". Lá atrás, há 2 mil anos, Marco Vitrúvio Polião, arquiteto romano, escreveu:
"A arquitetura é uma ciência, surgindo de muitas outras, e adornada com muitos e variados ensinamentos: pela ajuda dos quais um julgamento é formado daqueles trabalhos que são o resultado das outras artes."
Hã? Bem, com definições assim, o que você esperava que o leigo pensasse do arquiteto? O que pouca gente percebe é que há milhares de anos o arquiteto tem deixado sua marca na história humana. Oras, quem você acha que projetava as cidades, edifícios e ambientes dos épicos que você vê no cinema? Exceto pela parte em que o arquiteto era enterrado vivo com o faraó, a profissão era das melhores e mais respeitadas da antiguidade.
E hoje? Falta ao arquiteto saber vender seu peixe; conseguir traduzir para o cliente o valor intrínseco da profissão, descortinar o benefício, o que o cliente vai ganhar com isso. Sem isso não é possível evitar a idéia equivocada que muitos têm da profissão. O homem atrás de mim na fila da agência de correios era um deles.
Depois de contar as lâmpadas para matar o tempo, comentei com ele:
- Será que aqui funcionava uma loja de lustres e aproveitaram os pontos de luz? Ou, talvez, o dono do imóvel seja um fabricante falido de bocais? Ou quem sabe um acionista da indústria de lâmpadas econômicas?
-- Nada disso -- redargüiu o homem na fila. - Isso aí só pode ser coisa de arquiteto.
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MARIO,
ResponderExcluirAqui esta a sua palavra de especialista e isso faz de vocë um desenvolvedor e observador de seu tempo. A Arquitetura faz as coisas de um modo melhor e o profissional de experiëncia deve expandir esse conhecimento.
Magnifico artigo e eficaz para o bom e exercitado momento.
Continue nos mostrando essa seguranca e instinto de ver.
Cristina Guedes
jornalista e escritora
http://revistafroditequemquiser.ning.com/