De pé, numa platéia de 1200 pessoas, ela interrompeu minha fala e metralhou um discurso inflamado atribuindo a culpa de tudo a 500 anos de escravidão. Achei que exagerou. Eu nunca vi um judeu por a culpa de seu fracasso nos 2000 anos de desterro, perseguição e extermínio.
O amputado sul-africano Oscar Pistorius transformou a discriminação literalmente na mola propulsora de uma chance de participar das Olimpíadas de Pequim. O juiz Joaquim Barbosa Gomes não perdeu tempo olhando para a própria pele na sua escalada ao Supremo Tribunal Federal.
Apenas 60 anos após a abolição do sistema de classes ou castas na Índia, Hari Pippal já está milionário. Nascido na classe mais baixa dos "párias", "imundos" ou "intocáveis", hoje ele emprega 24 médicos da classe mais alta em seu hospital próximo ao Taj Mahal. Hari venceu, apesar de 1500 anos de discriminação.
A discriminação sempre existiu, existe e existirá por um bom tempo, e nem precisa ser étnica, religiosa ou social. A partir do momento em que compramos algo, subimos de posto ou adotamos uma opinião qualquer, passamos a olhar os outros de cima para baixo. Pergunte ao torcedor do Grêmio o que ele pensa do Internacional e vice-versa.
Mas o pior tipo de discriminação é, sem dúvida, a da garota que discursou em minha palestra. Falo da discriminação auto-imposta, que serve de desculpa para tudo. Pior do que ser discriminado é sucumbir à discriminação, sentir-se o maior dos injustiçados e mostrar a carteirinha de discriminado sempre que quiser conseguir algo.
Outro dia recebi um e-mail que começava assim: "Sou deficiente físico e gostaria de receber a doação de um livro..." Pediu da forma errada. Uma vez um candidato a inquilino tentou negociar um valor menor no aluguel de um imóvel, alegando que sua filhinha, que escutava nossa conversa, era diabética. Com uma motivação assim a menina vai usar a muleta de sua condição pelo resto da vida. A auto-piedade é uma droga; ela vicia e corrói as oportunidades.
Em alguns casos a tentativa de se amenizar os danos causados pela discriminação pode resultar em leis ou esforços de ação afirmativa, que é a preferência de emprego dada aos membros de uma minoria. Como toda ação gera uma reação, o troco vem na forma da discriminação reversa, quando a maioria exige condições iguais. Quando os fumantes britânicos passaram a fumar fora da empresa, os não fumantes reivindicaram os mesmos dez minutos de recreio.
Há formas culturais e curiosas de discriminação auto-imposta. Busque no Youtube por "fair and lovely ad" ou "pond's white beauty" e veja os comerciais de produtos para clarear a pele. Enquanto as mulheres ocidentais se cremam no sol para escurecer, as indianas usam creme para clarear. Os comerciais são mini-novelas: a mocinha pobre e de pele escura alcança o sucesso após descobrir que o creme compensa. Politicamente incorreto para os padrões ocidentais, esse tipo de apelo parece ser normal por lá.
Mas a discriminação pode e deve ser encarada com bom humor quando é fruto da ignorância, ingenuidade ou pura burrice. Está mais para gafe do que para discriminação deliberada. Foi o caso de uma apresentadora de TV que, ao convidar para o palco duas lindas vencedoras de concursos de Miss da comunidade japonesa no Brasil, soltou esta pérola:
- Nossa! Que gracinhas! Lindíssimas! Vocês têm certeza de que são japonesas?!
A Origem dos Meus Sonhos BARACK OBAMAConheça Barack Obama, o maior fenômeno da vida pública norte-americana desde John Kennedy. Sem meias palavras, Obama revela neste livro detalhes de sua vida que mostram como um adolescente revoltado se transforma na grande aposta de renovação na maior potência global. Nascido da miscigenação de raças e culturas - mãe branca norte-americana, pai negro africano e padrasto asiático -, ele é visto por muitos como um líder unificador, alguém que consegue transpor a barreira racial. Nesta obra, Obama, que é comparado a Kennedy por sua capacidade de animar os eleitores e oferecer uma nova liderança, revela a sua história e a de sua família e a forma como ele vê e encara o mundo. |
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