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Terror por assinatura

Senti-me um covarde. As cicatrizes deixadas pelas experiências passadas faziam minhas mãos tremerem só de pensar em sofrer aquilo de novo. Adiei o mais que pude, mas decidi ir em frente. Não, não estou falando do exame da próstata. Falo do cancelamento da TV por assinatura.

Se fosse possível experimentar o cancelamento antes de experimentar o serviço, a maioria dos brasileiros voltaria aos bons tempos do rádio. Eu sei que essas empresas contratam profissionais competentes e boas agências para vender seus serviços, mas o cancelamento é outro departamento. Deve ficar no subsolo, numa masmorra.

Eu imagino um lugar igual ao laboratório do Dr. Silvana ou qualquer outro vilão do submundo dos quadrinhos. O responsável pelo cancelamento está para o responsável pela venda assim como o Lex Luthor está para o Super-Homem, o Coringa para o Batman e a bola para a Seleção.

Tudo começou quando outra operadora ligou oferecendo um milhão de vantagens. Por algum motivo essas empresas tentam me fisgar pelos canais de esportes, dos quais eu pratico salto a distância. Tentei explicar isso sem parecer um E.T. Então ela focou no preço: TV + Internet + telefone por menos do que eu pagava pelos serviços separados. A diferença berrou em meus ouvidos: COMPRA! COMPRA! COMPRA! Comprei.

Aí veio a hora de cancelar a Internet e a TV das outras operadoras, pois eram serviços independentes. Primeiro liguei para cancelar a Internet, o que não doeu muito. O sistema é configurado para a ligação dar ocupado ou cair quando você escolhe a opção "Cancelar". A minha caiu seis vezes. Aí escolhi "Adquirir" e consegui falar na mesma hora.

Infelizmente a atendente do cancelamento não é a mesma garota cordial que vende o serviço. Eu a imagino como uma escrava trabalhando no laboratório subterrâneo de um vilão dos quadrinhos, com um pé acorrentado a uma bola de ferro, sentada sob um capacete desses de salão de beleza com bobes cozinhando seu cérebro com instruções. Se ela não obedecer ao script o capacete dispara um choque de onze mil volts.

Depois de recusar todas as contra-propostas que ela me fez, decidi encerrar o assunto. Seria constrangedor esperar ela oferecer pagar do próprio bolso para eu continuar cliente. Tenho coração mole e me compadeço dessas mocinhas só de imaginar a pressão que sofrem. Sabe quantas ameaças de morte elas recebem por dia?

A mocinha da TV a cabo foi outra história. Osso duro de roer, ela deve ter levado muitos choques para terminar assim. Agarrou-se a mim desesperada, lutando para não me deixar escapar. Devia ser sua última chance antes do choque fatal. Quando seus argumentos deixaram de surtir efeito, apelou para o terrorismo:

"Seu pedido de cancelamento foi agendado para o dia 30 do próximo mês".

Aí chocado fiquei eu. Protestei. O mês estava só começando. Não era justo pagar quase dois meses por um serviço cancelado! Ameacei chamar o PROCON, a ANATEL e o Chapolin Colorado. Ela disse que "estaria vendo o que poderia estar fazendo". Ela agonizava quando tentou um último argumento, o mais baixo de todos:

"Se o senhor estiver cancelando vai estar perdendo os quinhentos reais que valem o decodificador. Não quer estar deixando sua assinatura no valor básico, até estar encontrando um amigo para estar vendendo o equipamento e estar transferindo a assinatura?"

Respondi que preferia "estar perdendo" o dinheiro do decodificador a um amigo. A empresa, da qual eu era apenas um cliente satisfeito querendo cancelar seus serviços, e quiçá um dia voltar, desejava me acorrentar a uma bola de ferro de sua masmorra. Senti-me transformado num radical. Agora eu estava disposto a ligar para lá com uma bomba amarrada ao corpo e cometer um atentado via telefone.

Mesmo assim tentei parecer cordial. A mocinha não tinha culpa de ser açoitada todos os dias com aquele script de retenção de cliente criado por algum gênio do mal.

O assunto ficou resolvido antes que eu usasse o estratagema que usei com o banco que ligou para oferecer um enésimo cartão de crédito. Eu estava ocupado demais para prestar atenção à lista de vantagens que o rapaz papagueava e decidi interromper:

- Por gentileza, leia o que diz a última linha do script que você tem aí na sua frente.

Ele obedeceu como se tivesse sido treinado por Pavlov.


"Agradecemos sua atenção e nos colocamos à disposição".

- De nada. - disse eu, e desliguei.

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Manual de Boas Maneiras para crianças de todas as idades - Guto Lins
"Com um texto repleto de rimas engraçadas, acompanhado de belas e inusitadas ilustrações feitas pelo próprio autor com pequenos objetos e sucata, esse livro apresenta, para crianças de todas as idades, regras básicas de convivência social com respeito e harmonia. Esse é um bom exemplo de que até mesmo um Manual de Boas Maneiras pode ter uma versão bem-humorada. Dicas para a vida toda!
"Pensa que só adulto precisa de manual de boas maneiras? Nananinanão. Criança que tira meleca com o dedo, fala de boca cheia, solta pum e arrota na frente dos outros, bate nos amigos e conta mentiras... (ufa !) também precisa. Foi pensando nesses capetinhas que Guto Lins escreveu o Manual de boas maneiras para crianças de todas as idades."
O Globo/Globinho, 23/05/2004
GUTO LINS, designer e professor do Departamento de Artes e Design da PUC-Rio, tem ampla experiência no mercado editorial, fonográfico e de entretenimento. É autor e ilustrador renomado de livros infantis, e seu trabalho é reconhecido com o selo "Altamente Recomendável" da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.






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E a gorjeta, doutor?

2 comentários:

  1. Como você descobriu que era uma masmorra?

    Depois de ler a crônica, me perguntei: "Por que eu estava rindo tanto?"

    Engraçado como temos uma tendência de rir das nossas próprias tragédias pessoais.

    Já trabalhei em call-center, fui back-office, suporte, e não durei mais do que 1 anos e meio na masmorra, sentia-me como um daqueles pobres soldados medievais preso pelo inimigo.

    Mas eles fazem coisas interessantes lá, afinal na masmorra também tem aquelas festas macabras, que chamam de "campanhas motivacionais" entregando ingressos de filmes que não interessam, camisetas ruins que não servem em você (afinal estou gorducho, etc...

    Rss.... "Poderia estar agora escrevendo mais ao senhor mas,.... só a lembrança já tenho tiques de gerundismo..."

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  2. Anônimo23/2/11

    Bom dia Mario,
    venho acompanhado seu trabalho pela internet por um longo tempo, tbem ministro palestras porem voltada para área de Emergência, gostaria que vc me desse algumas dicas pois tenho um blog, gosto de elogios, porem preciso das críticas para me aperfeiçoar, por gentileza se tiver um tempinho visite meu blog e deixe um comentário
    agradecido
    blog https://brancalhao.wordpress.com/
    e-mail: thiagobrancalhao@hotmail.com

    por Thiago Brancalhão

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