Pelo menos me solidarizo com a economia norte-americana, que também está com prisão de ventre. Não adianta aumentar o input que o output continua zero. Travou. Mesmo assim sinto-me em vantagem por ser brasileiro.
Crise no Brasil é comadre. Brasileiro vê a dita cuja chegar e vai logo dizendo pra patroa preparar o quarto de visita. Ela vem, fica uns tempos, e depois se despede com um "até logo". Nos EUA não. O pessoal só ouviu falar de uma tal de Vinte-e-Nove, mas de lá para cá reinou mesmo a farra do consumo. Agora a onda de falências e falcatruas prova que estava tudo errado. A população, acostumada a gastar o dinheiro que não tinha, agora quer poupar o dinheiro que não tem. Mudanças de comportamento já pipocam por aqui, e colecionei algumas.
Se antes você evitava pedir desconto em loja nos EUA, para não morrer de hipotermia com o olhar do vendedor, agora até operadora de celular dá desconto antes de você dizer alô. Dono de imóvel de aluguel, então, nem se fala. Agora as bibliotecas vivem cheias, pois é o melhor lugar para se procurar emprego, não só por causa da Internet de graça, mas por poder deixar desligado o aquecimento de casa. As vendas de pés-de-cabra aumentaram, o que pode indicar que muita gente está investindo numa carreira alternativa e sabe que tá todo mundo nas bibliotecas.
Mas tem gente ganhando honestamente com a crise. Hotéis e restaurantes em estações de esqui próximas de Nova Iorque recebem turistas que antes viajavam para mais longe. Empresas que decoram casas para vender também estão faturando, mesmo que as casas continuem encalhadas. Roupas sem grife agora são "in", e o macarrão instantâneo nunca foi tão comido. Tá ruim para a alimentação natural que é mais cara? Não sei, porque a procura por tratamentos alternativos de saúde aumentou. O pessoal quer distância da conta do médico e do hospital.
A procura por cursos que ensinam a otimizar recursos e reduzir custos cresceu 40%. A venda de chocolate também está fazendo o americano crescer porque acalma. Um entregador de comida contou num programa de rádio que suas gorjetas aumentaram. Quem estava acostumado a dar gorjetas de até 20% em restaurantes agora é o novo cliente de comida chinesa em casa.
Enquanto isso o governo continua em sua missão impossível de ressuscitar dinossauros, quando devia dar mais atenção às lagartixas. Não é possível querer que tudo volte a ser como dantes no quartel do desperdício desenfreado de Abrantes.
O próprio desenho das cidades é ineficiente. As casas são tão espaçadas que tem madame que tira seu SUV da garagem para pegar correspondência na caixinha de correio da calçada. Numa sociedade extremamente individualista e onde o sucesso é medido pelo número de suítes da mansão que as mexicanas faxinam, morar em prédio de apartamentos ou casas geminadas ainda é visto como coisa para "loosers", apesar de ser mais racional e eficiente. Acho que vai ser difícil mudar a cultura de um povo que acredita que ser feliz é andar de limusine do tamanho de um quarteirão e se diverte esmagando carros semi-novos com caminhões de pneu balão.
Enquanto "recuperar" for sinônimo de ressuscitar o modelo econômico jurássico de endividamento que vigorou até agora, e que nós brasileiros queremos imitar colecionando carnês, nada será recuperado. A cura da constipação não é comer mais, é comer diferente. Forçar a barra não adianta, e a senhora que vi no aeroporto de São Paulo, minutos antes de embarcar, é prova disso. Ao sair do banheiro, de braço dado com quem parecia ser sua filha, a septuagenária anunciou num volume equivalente à sua perda auditiva, para todo o aeroporto ouvir:
- Tá vendo? Fui outra vez e não saiu nada!
Colapso: Como as Sociedades Escolhem o Fracasso ou o Sucesso - Jared Diamond Diamond mostra como o colapso global pode ser evitado, analisando civilizações do último milênio, e investiga por que umas se extinguiram enquanto outras prosperam. Mostra como as causas ambientais (mudança climática causada pelo homem acúmulo de lixo químico, falta de energia e superutilização da capacidade de fotossíntese), mais que guerras de povos e culturas. Explica o que seriam as decisões autodestrutivas mais recorrentes na História, com o objetivo de evitar catástrofes coletivas e reverter valores incorporados às sociedades. Editora: Record Autor: JARED DIAMOND ISBN: 8501065943 Origem: Nacional Ano: 2005 Edição: 1 Número de páginas: 685 Acabamento: Brochura |
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