Há mais de quarenta anos o homem chegava à Lua. Foi um momento de conquista e glória para a humanidade. Finalmente tínhamos alcançado as alturas. Agora tudo indica que o ser humano está empenhado em alcançar as larguras.
Percebi isso na entrevista de uma empresária do segmento de confecções de roupas íntimas. Caíam as vendas de calcinhas tamanho "P" e aumentavam a olhos vistos as de tamanhos como "G", "GG" e até "GGG". Provavelmente o mesmo acontece com as cuecas e suponho que a indústria acabará adotando etiquetas com tamanhos exponenciais como "G20".
Apesar das políticas de controle de natalidade, a população da Terra continua sob a ameaça de uma explosão demográfica, agora no sentido literal. Essa expansão do ser humano para as laterais já cria problemas de espaço. As salas de embarque nos aeroportos oferecem bancos em dobro para obesos, mas os aviões ainda insistem nas poltronas tamanho "P - Infantil". Se você for tamanho G+ vai precisar comprar duas poltronas e pedir um extensor do cinto de segurança. Já posso ouvir a mudança que logo farão no aviso da comissária: "Para seu maior conforto, mantenha o cinto afivelado e o apoio do braço entre as poltronas levantado".
Em um de meus voos fiquei feliz ao descobrir que viajaria na poltrona do corredor e com uma vaga entre mim e o passageiro da janela. Ele pareceu ler meus pensamentos, pois também olhou para a poltrona vazia entre nós e sorriu. Mas nossa alegria durou pouco. Um eclipse na luz da cabine revelava o embarque tardio de um casal avantajado. A dupla avançava pelo corredor deixando claro para onde caminha com dificuldade a humanidade se não parar de comer.
Lembrei-me com saudades dos tempos em que as coisas eram mais difíceis e você precisava descascar as batatas se quisesse comê-las fritas. As pessoas eram menores e mais magras, carro era luxo e refrigerante bebida de festa. Hoje os adolescentes são maiores que os pais. Muito maiores. Verdadeiros gigantes que não só crescem para o alto, mas também para os lados. Principalmente para os lados. Dos pés, então, nem se fala. Eles compram tênis e ainda podem escolher o acessório: remo ou vela.
Enquanto o governo não trocar o "Fome Zero" pelo "Obesidade Zero" e estampar nas embalagens de alimentos calóricos uma galeria de horrores como a das embalagens de cigarros, a população do planeta vai ter de combater o "Efeito Estufado" à sua maneira. E é o que estão fazendo os funcionários de um hospital no Rio.
De iniciativa própria eles adotaram um programa nutricional para reduzir a taxa de quase 50% de obesidade da equipe. Depois de um ano os 1.400 funcionários tinham se livrado de 3 toneladas de gordura. Três toneladas! Para você ter uma idéia, se toda essa gordura fosse extraída por lipoaspiração daria para produzir 2 toneladas de biodiesel. Também daria para fabricar centenas de barras de sabão ou potes de margarina, para quem não se importar de passar o colega no pão. Nem o pessoal da Rio+20 pensou nesta possibilidade.
A notícia que chega de Nova Iorque é de uma iniciativa para atacar os refrigerantes como quem ataca o terrorismo. A demora na implementação das leis deve ser por estarem discutindo se a pena para quem tomar Coca-Cola deve ser a mesma de quem tomar Pepsi. O sal também virou vilão e em alguns lugares o saleiro já foi banido da mesa dos restaurantes.
Mas sal engorda? Sim, porque causa a retenção de líquidos no corpo. Então a solução, ao menos para o excesso de sal, é evitar salgados e comer doces, certo? Errado. Outro dia comparei a quantidade de sódio que havia numa porção de batatas fritas servidas no avião com o sódio da mesma porção de biscoitos de chocolate recheados que aceitei da aeromoça em um momento de fraqueza. O biscoito doce tinha mais sódio que a batata salgada.
Meus pensamentos foram interrompidos quando o casal wide-body parou no corredor do avião para conferir seus lugares: a mulher iria para a poltroninha do meio e o homem ficaria do outro lado do corredor. Quando percebi, levantei-me de um salto.
-- Viajam juntos? Não é justo que fiquem separados. O senhor pode ficar com meu lugar ao lado de sua senhora e eu fico com o seu, do outro lado do corredor. Faço questão -- insisti.
Os dois ficaram encantados. Pela pequena fresta que sobrou entre eles e o encosto da poltrona pude ver o outro passageiro, com a bochecha grudada na janelinha, me fuzilando com o olhar.
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Eu bem que tentei, e até gostei de você. Rápido, seguro, firme nas curvas. Mas acho que estou um pouco velho para novas experiências. Afinal...
Amigo Mario, que texto!!!!é tudo isso e mais um pouco, eu esperava mais desses encontro G20, infelizmente é isso que estamos vendo.
ResponderExcluirGrande abraço e apareça no Perseverança,
Abraço fraternal e um excelente fim de semana.
Nicinha
Excelente!! Até me deu um coragem de dar uma corrida na esteira...rsrsr
ResponderExcluirMario, fazia tempo que não lia um texto realmente bom. Parabéns!
ResponderExcluirMarco Antonio Meira
Meu primeiro pensamento ao ler esse texto foi de indignação. Afinal as pessoas têm liberdade para escolher o que querem comer e beber, e sabem das consequências. Não seria justo cobrar de mais ninguém a atitude de cuidar de si próprio. Mas depois, pensando melhor, acabei concordando com você. Se é para abrir uma manifestação pública, que seja pela saúde, começando por empurar por nossa goela abaixo mais opções de desenvolvimento intelectual.
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