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Construindo pontes para o aprendizado

Quando meu filho era pequeno, entrou para uma escola onde a professora era apenas dois anos mais velha. Aos quatro anos de idade ele já estava alfabetizado e qualquer passeio de carro pelas avenidas era acompanhado de uma locução vinda do banco de trás que dava voz aos outdoors. Era ele lendo as propagandas, do jeito que a irmã ensinou e a curiosidade incentivou.



De lá para cá meu filho não parou de aprender, com a irmã, com os pais, com os livros, com os professores. Mas aquele método de aprendizado, pela curiosidade e pela iniciativa própria, felizmente permaneceu e hoje ele lê coisas que eu nunca li e fala de assuntos que eu mesmo nunca entendi.

Mas quem foi, afinal, o seu melhor professor? Foram vários os educadores que ajudaram meus filhos, mas por algum motivo em casa eles receberam uma boa dose de vontade de aprender que nunca foi reprimida. Por vários anos relutamos em ter uma TV, o que só aconteceu quando já estavam na pós-adolescência. Mesmo assim eles viviam bem informados, lendo jornais e revistas ou assistindo vídeos escolhidos. Sem falar no apetite pela leitura que a falta de uma babá eletrônica despertou.

Ao contrário da TV, o computador entrou cedo na família. Primeiro foi um TK alguma coisa, depois um Apple, seguido de dois MSX, um PC XT, um PC 486, alguns Pentium e os modernos que nem sei definir. Em minha cidade nós fomos os clientes de número 100 ou algo assim do primeiro provedor de Internet, mas antes meus filhos já acessavam uma BBS, um sistema de troca de mensagens da pré-história da Internet. Com sete anos de idade meu filho já fazia programas de computador em linguagem Basic e minha filha escrevia suas primeiras histórias no computador, ensaiando para seu primeiro livro lançado aos 23 anos. E brincávamos muito.

Brincávamos tanto, que eu tinha até meu lugar cativo de co-piloto no Elite, um jogo no MSX que simulava viagens espaciais com uma nave mercante, comprando e vendendo em diferentes planetas como se fosse um Banco Imobiliário do futuro, sempre sob a ameaça de ataque dos piratas do espaço. "Pai, vamos jogar Elite?", perguntava meu filho assim que eu chegava do trabalho. "É prá já!", eu respondia, enquanto saía em busca de meu boné de co-piloto caminhando pelo piso do mezzanino de casa evitando pisar nas centenas de peças de Lego espalhadas pelo chão.

Apesar de o jogo se chamar Elite, meus filhos não receberam seu ensino básico em escolas de elite. Salvo por um breve período em uma pré-escola particular, praticamente todo o ensino veio da escola estadual onde dividiam o espaço com coleguinhas que eram filhos das educadoras. Assim, não tiveram professoras, mas verdadeiras mães que ensinavam suas classes do modo como ensinavam seus filhos. E que também nunca inibiram esse desejo natural que toda criança tem de aprender e descobrir coisas novas.

Rubem Alves fala sobre essa paixão de aprender e ensinar, em um texto sobre a Escola da Ponte, em Portugal:

"Conto essas coisas da minha vida de menino para dizer que as crianças são curiosas naturalmente e têm o desejo de aprender. O seu interesse natural desaparece quando, nas escolas, a sua curiosidade é sufocada pelos programas impostos pela burocracia governamental. Pela minha vida tenho estado à procura da escola que daria asas à curiosidade do menino que fui. Pois, de repente, sem que eu esperasse, eu me encontrei com a escola dos meus sonhos. E me apaixonei" (Rubem Alves em ""A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir").

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Um comentário:

  1. Anônimo15/7/13

    Muito interessante esta historia retrata algo do passado em algum vilarejo lá por trás dos montes coisas que não existem mais ,mas se existisse seria de grande valor e por seu valor provavelmente não estaria aberto ao cenário popular ao qual pertencemos e sim a elite , de qualquer modo inspiradora posso fechar os olhos e imaginar este cenário.
    Amei a historia e ate a proxima

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