Há dois mil anos os romanos já tinham inventado a World Wide Web, a Rede Mundial de comunicação e interatividade. A partir de um "servidor" chamado Roma, saía uma rede de comunicação e transporte de dados, arquivos e mercadorias que cobria todo o império e era vital para que fossem feitos uploads e downloads, não só de informação, mas de armas, escravos e suprimentos.
Apesar de nem tudo o que circulava pela rede ter fins pacíficos ou ser moralmente correto, Deus permitiu que aquela internet romana estivesse pronta e funcionando bem na hora da expansão do cristianismo. Foi assim que, usando a internet romana, o evangelho chegou rapidamente aos quatro cantos do império. Na época alguém poderia dizer: "Ei, cristãos, se vocês não concordam com as coisas deste mundo, por que usam a rede de estradas romanas para disseminar suas doutrinas?". Apesar deste versículo falar de outra coisa, acho que dá para pegar o mesmo sentido para responder a esta pergunta:
"Rogo-vos, pois, que, quando estiver presente, não me veja obrigado a usar com confiança da ousadia que espero ter com alguns, que nos julgam, como se andássemos segundo a carne. Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo." 2 Coríntios 10:2-5
No início do ano 2000 escrevi uma crônica falando da internet romana e ela faz parte da coletânea de crônicas em meu livro "Receitas de Grandes Negócios". Segue abaixo:
Refresco Romano
É difícil dizer quem inventou o cano. Não estou falando do calote, mas desse fantástico meio de transporte de água. O cano ainda não era flexível e já dava flexibilidade aos assentamentos humanos permitindo que as pessoas fossem morar longe das fontes, rios e lagos. Com a invenção do cano o pescoço das mulheres também ganhou em flexibilidade, já que eram elas as principais carregadoras de água na antiguidade Graças ao cano elas não precisavam mais andar de pescoço duro, com latas d'água na cabeça, tarefa árdua principalmente numa época em que as latas eram feitas de pedra ou barro e eram chamadas cântaros.
Canos feitos de folhas de chumbo, que eram enroladas em varas de madeira e soldadas também com chumbo derretido, distribuíam água nas principais cidades do império romano. Em Pompeia foram descobertas privadas muito parecidas com as atuais, inclusive com dobradiças que devem ter servido para segurar os assentos de madeira. Mas os arqueólogos não descobriram qualquer vestígio da madeira ou do papel higiênico, e nem sabem explicar se os homens da época levantavam o assento antes de urinar, algo que muitos são incapazes de fazer dois mil anos depois.
Aquedutos de pedra levavam a água até depósitos estratégicos, de onde partiam as diferentes redes de distribuição. Muitas delas existem até hoje em Roma, alimentando dezenas de fontes espalhadas pela cidade. Foram tão bem projetadas quanto as famosas estradas que levavam tudo e todos a Roma. Algumas dessas estradas milenares são utilizadas até hoje por carruagens sem cavalos ou, quando muito, por algumas cujo único cavalo é o do logotipo. As italianas Ferraris.
Se quiser conhecer uma dessas estradas em detalhes, sugiro que tente sair de Roma pela Via Apia na hora do rush. Fiz isso há alguns anos e tive tanto tempo para examinar com calma cada pedra, arco e monumento do caminho, que quando terminei o trajeto estava quase fluente em latim. Os inimigos de Asterix não previram que a demanda por sua rede de estradas seria tão grande assim no futuro. Se soubessem, os romanos teriam inventado a banda larga.
Mas que proveito há em falar de estradas e canos da Roma antiga. Muito. Apesar dos marqueteiros da época terem perpetuado a ideia de que todos os caminhos levavam a Roma, a verdade é outra. Todos os caminhos saíam de Roma. O que os caminhos levavam a Roma eram bens tangíveis, como mercadorias e riquezas. Mas o que ajudava a gerar essa riqueza era o bem intangível que saía de Roma: a informação. O império sabia muito bem que suas legiões de nada valiam sem as ordens de comando que chegavam até elas e as faziam marchar em uníssono com o poder central. Era o poder da informação que dava poder à formação.
O tempo passou, mas os princípios permanecem os mesmos. Informação é poder, e ponto final. Abre parêntesis: achei melhor colocar o ponto final porque algum engraçadinho poderia querer desenvolver o raciocínio e concluir que, se informação é poder, e o poder corrompe, e corrupção é crime, e o crime não compensa, então a informação não compensa. Fecha parêntesis.
Portanto, a informação que transportava a Pax Romana pela rede de estradas criava a interatividade necessária à sobrevivência do império. Menos evidente, mas nem por isso menos influente e fluente, era sua rede de distribuição de água. Seus benefícios eram bem visíveis, talvez visíveis até demais. Isso acabou levando os romanos decadentes a desperdiçarem a maior parte do tempo nos banhos ou nos cinemas, que na época apresentavam “O Gladiador” ao vivo. Os artistas da época tinham as mesmas preocupações dos artistas de nossos dias: alcançar o portal da fama e escapar do leão.
Gastando todo dinheiro das colônias tributárias e tomando banho o dia todo, não é de se estranhar que os romanos tenham ficado limpos e o império, ineficiente, tenha acabado em ruínas. Sobrou a rede – de água e de estradas – que funciona até hoje. Se os romanos entraram pelo cano, não foi por culpa da rede, mas apesar dela, uma lição que permanece até os nossos dias.Mario Persona é palestrante de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional. Seus serviços, livros, textos e entrevistas podem ser encontrados em www.mariopersona.com.br
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