Lá estava eu aguardando em pé no aeroporto de Congonhas o momento de embarcar no voo que me levaria a Curitiba para uma palestra. Mentalmente ia construindo o que pretendia falar, quando algo chamou minha atenção. Do outro lado da sala de embarque três pessoas olhavam em minha direção e conversavam entre si, apontando para mim. Conhecidos? Não, as fisionomias do rapaz e das duas mulheres me eram completamente estranhas. Mesmo assim continuaram a apontar em minha direção e a trocar comentários.
Instintivamente olhei para baixo e conferi se estava tudo fechado, pois tinha acabado de sair do banheiro. Continuavam olhando. Passei a mão sobre a cabeça, pensando na possibilidade de alguma mecha de cabelo arrepiado, mas nada. Ainda era objeto da atenção dos três.
Instintivamente olhei para baixo e conferi se estava tudo fechado, pois tinha acabado de sair do banheiro. Continuavam olhando. Passei a mão sobre a cabeça, pensando na possibilidade de alguma mecha de cabelo arrepiado, mas nada. Ainda era objeto da atenção dos três.
Então ouvi a voz de meu ego sussurrando entre minhas orelhas:
— É com você, Mario. Eles querem um autógrafo.
— Será, ego? — perguntei, ligeiramente interessado. — Por que alguém iria querer um autógrafo meu? — continuei em meu diálogo mental, enquanto verificava se minha caneta estava no bolso do paletó, para o caso de meu ego estar com a razão.
— Ora, Mario, você escreve livros, dá palestras em todo o país e tem milhares de seguidores nas redes sociais! Eu sei que, no fundo, você esperava ser famoso algum dia. Pois esse dia chegou!
É verdade, cedo ou tarde a gente acaba ficando famoso, ainda que seja dentro do perímetro de nossa mesa ou na reunião de condomínio. Antigamente um ser humano, no decorrer de sua vida, exercia influência sobre umas dez mil pessoas. Hoje, com toda a tecnologia, essa influência é muitas vezes maior. Seja ela boa ou má.
Mesmo que você não seja um guru, é preciso saber administrar isso. Se eu sei que sou capaz de influenciar tanta gente, que tipo de pessoa devo ser? E se qualquer cidadão anônimo é hoje filmado, fotografado e rastreado, será que a fama não está logo ali? Está. Basta um escorregão e seu rosto vira manchete. Boa ou ruim.
De vez em quando chega um e-mail de algum ex-aluno que, de algum modo, influenciei anos atrás. Percebo que a influência foi mais pelo que ele viu em mim do que pelo que ensinei a ele. O fato de algum aluno se lembrar de mim também é fama. Boa ou má fama, mas é fama.
Durante o almoço em um evento onde fiz uma palestra de vendas, sentei-me com dois diretores da empresa que havia me contratado, de frente para uma profissional de vendas. Quando eu disse que era formado em arquitetura, ela disse que também era. Quando citei a escola, era a mesma. A época? Nossas turmas conviveram por pelo menos três anos. Uma coincidência assim poderia se transformar em um grande embaraço, dependendo da fama que eu tivesse deixado no passado. Será que hoje posso contar comigo como era, ou amanhã vou precisar me esconder do que hoje sou? Fama é assim.
Mas nada disso me preocupava naquele momento no aeroporto, enquanto era apontado de longe por aquelas três pessoas que, segundo meu ego, estavam morrendo de vontade de pedir um autógrafo. Como a distância era grande, pensei até em disfarçar uns passinhos e ir me aproximando, mas achei que poderia pegar mal. Então percebi que não precisaria caminhar até lá. A poucos passos de mim outro grupo olhava em minha direção. Marido e mulher, com a filha adolescente, cochichavam para eu não ouvir o que já estava ouvindo.
— É ele sim. Tenho certeza. Pode ir lá pedir. — dizia a mãe com o canto da boca.
— Tenho vergonha, mãe, só se você for comigo. — cochichava a filha com o rosto ligeiramente corado.
— Então vamos! — decidiu a mãe, tirando da bolsa uma câmera.
Logo vi que não era autógrafo que queriam. Elas queriam uma foto. Dessa vez fui mais rápido que meu ego e já ajeitava o nó da gravata quando elas partiram em minha direção.
— Podemos tirar uma foto? — perguntaram em uníssono.
— É claro! Será um prazer. — respondeu uma voz atrás de mim, tirando as palavras de minha boca.
Logo mãe e filha se fotografavam, sorridentes, abraçadas ao cantor sertanejo que eu não vira bem atrás de mim. Tentei fazer cara de paisagem, mas minha cara de idiota devia ser notória. Procurei meu ego, mas ele não quis me atender. Eu ainda não era famoso o suficiente.Mario Persona é palestrante de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional. Seus serviços, livros, textos e entrevistas podem ser encontrados em www.mariopersona.com.br
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Boa tarde, Mário Persona.
ResponderExcluirMe desculpe, mas não consigo parar de rir...
Não é pra te consolar, pois na verdade, eu acredito que você nem dê tanta bola assim para seu ego, se não, com o talento todo que tem já seria de fato muito mais famoso, mas se eu estivesse nesse aeroporto, eu provavelmente não reconheceria o cantor sertanejo e se a minha timidez deixasse eu gostaria muito de ter um autógrafo seu e porque não uma foto de alguém que admiro muito. A propósito, espero um dia poder assistir uma palestra sua aqui em Brasília, eu adoraria mesmo.
Um forte abraço,