Moeda do Reino Unido comemorativa dos 400 anos de Shakespeare. |
Foi um passeio bem instrutivo, mas quando meu guia pediu se eu tinha alguma cédula de Reais na carteira, fiquei preocupado. O cara vivia no meio do dinheiro, literalmente caminhando sobre milhões de reais, e ia pedir logo do meu? Na hora pensei naqueles mágicos que pegam dinheiro de alguém na plateia e para colocar fogo na cédula e ela depois surgir intacta dentro de uma caixa trancada. Naquela hora pensei em perguntar: "Serve a gravata?".
Uma vez meu cunhado foi se consultar com um médico que tinha por hobby fazer mágicas para reduzir o estresse dos pacientes. Ele pediu a meu cunhado uma nota de dez reais, o que só serviu para aumentar seu estresse, mas ele deu de boa vontade, por achar que a consulta estava saindo mais barato do que pensava. Não era desconto, o médico só queria fazer a nota desaparecer diante de seus olhos para depois fazê-la surgir exatamente igual e com o mesmo valor. Na minha opinião um péssimo investimento.
Enquanto caminhávamos pela passarela elevada da "Casa da Moeda" meu guia usava minha nota para mostrar os diferentes dispositivos de segurança existentes nela, como fiapos coloridos misturados à massa da matéria prima do papel, símbolos só visíveis com luz ultravioleta, e a perfeição da impressão, que permite que, dobrando a cédula, você consiga fazer um desenho continuar na aba oposta com total precisão.
Eu só tinha brincado de dobrar notas quando era garoto, e fazia isso com uma nota de 5 Cruzeiros, a famosa "Nota do Índio". Acho que foi a primeira impressa pela "Casa da Moeda" em 1961 (antes eram feitas na Inglaterra), e todo garoto tinha uma bem guardada em sua carteira. A brincadeira era perguntar "Quer ver o índio fumar cachimbo?" ou "Quer ver o índio soprar língua de sogra?", dependendo da versão, e aí dobrar a nota de modo que a boca do índio encontrasse a perna do número 5. Numa época quando criança não sabia o que era vídeo game isso causava sensação.
Do alto da passarela dava para ver a gráfica, as máquinas imprimindo, o dinheiro sendo cortado, embalado... Numa visita como aquela eu me sentia como quando você vai ao supermercado na hora do almoço e quer levar tudo o que vê. e naquela hora nem tentei defender minha classe. Ao longo do caminho o guia prometia repetidas vezes que me daria uma nota de cem reais no final do percurso.
E realmente deu: uma nota de cem reais picada em pedacinhos dentro de um saquinho plástico. Era parte do refugo de notas com defeitos que eles destroem e dão como souvenir para visitantes. Acho que vou até levar na carteira para quando eu tentar pagar algo com uma nota de cem e o vendedor perguntar se não tenho dinheiro trocado. Vou fazer de conta que entendi "dinheiro picado".
Em um determinado momento pude observar que havia uma grande sala com várias mulheres sentadas em mesas com blocos de papel moeda já impressos e ainda não cortados. Elas folheavam os blocos de um lado para o outro, viravam, folheavam outra vez, desviravam, tornavam a folhear....
Perguntei o que faziam, e meu guia informou que elas procuravam defeitos na impressão. Reparei que só havia mulheres naquela seção e ele explicou que a mulher tem uma melhor visão periférica que faz com que seja melhor que o homem para encontrar defeitos. Eu nunca duvidei disso, mas agora tinha minha teoria cientificamente comprovada. Obrigado, "Casa da Moeda".
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Todo esse enredo para chegar ao clímax da história...simplesmente sensacional.
ResponderExcluirObrigado Mario!
Muito bom ler suas crônicas.
Muito bom.
ResponderExcluirMuito bom, Mario. Já virei sua fã, assisti há alguns vídeos e estou adorando o seu trabalho.
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