Quer aprender a pensar fora da caixa e desenvolver a criatividade? Então esteja disposto a sair fora da caixa, a fugir do lugar comum, driblar velhos hábitos, caminhar no caminho incerto. Nosso cérebro é energeticamente correto no que se refere a economizar, mas isso nos priva de desenvolver novas sinapses, tão vitais à criatividade.
O cérebro é o órgão que mais consome energia, não só para pensar, mas também para controlar o que acontece da ponta do dedão do pé ao cocuruto. Como um pai mão de vaca, que nunca leva seus filhos passear, seu cérebro também evita viajar de “Hellman’s Airlines”, fazendo você sentir-se confortável na velha poltrona da rotina diária.
Sugestão: procure fazer coisas diferentes ou de outra forma. Já usou o relógio no outro pulso? Que tal vestir a camisa fora da calça, se você for da Terceira Idade? Escovar os dentes com a outra mão também ajuda, se não enfiar a escova no olho. Se navegar seu mouse com a outra mão seu corpo navegará junto, mas só no começo. Depois seu GPS cerebral criará novas rotas para sua mão.
Sair da rotina ajuda a reduzir o estresse. Lembra de como os dias na infância eram longos? Não eram, você é que passava mais tempo descobrindo coisas novas e no final sentia-se realizado. Hoje o relógio dá seis da tarde e você está frustrado, achando que não fez nada o dia inteiro. Fez sim, mas só coisas de rotina que seu cérebro trazia gravadas para você fazer sem pensar nem inovar.
O segredo é mudar, não tão radicalmente quanto comer pizza doce. Comece com algo mais leve, tipo uma série fora das habituais norte-americanas. Já viu uma da Islândia? Então se agasalhe e veja “Trapped” com Jóhann Jóhannsson e Hildur Guðnadóttir. Não é palavrão, é o nome dos artistas. Mais fora da caixa? Que tal a turca “Ressurrection” ou “O grande guerreiro otomano” ou “Diriliş: Ertuğrul” (sei lá, cada país tem um nome). Estava vendo mas fiquei preocupado de não terminar por causa da idade. São cinco temporadas com mais de setenta episódios cada!
Ela conta a história do Império Otomano, mas parei na segunda temporada antes que a série me convertesse ao islamismo. Como acontece também com séries do extremo oriente, tudo é em câmera lenta. Um personagem fica olhando meia hora para o outro antes de dizer alguma coisa. Dá para ver o capim crescer. No início de cada episódio tem um aviso de que nenhum animal foi ferido nas filmagens, mas o mesmo não se pode dizer de esgotamento físico. Metade do episódio os atores passam galopando. Imagino que deviam estar com assaduras no final da série.
Compare a americana “Designated Survivor” com sua clone coreana “Designated Survivor - 60 days”. Na americana tudo é muito rápido. Kiefer Sutherland continua ofegante, mesmo ele não sendo mais o Jack Bauer de “24 Hours”, com seu celular que nunca precisa recarregar. Na versão coreana, Ji Jin‑hee, no papel de Park Mu‑jin, precisa decidir se vai ou não declarar guerra à Coreia do Norte, quando os aviões inimigos já estão no ar. Deu vontade de me levantar para dar um tapa na TV que parecia travada. O cara não está decidindo o futuro da humanidade, ele está meditando. Zen demais.
Séries coreanas me deixam intrigado. Estou vendo uma envolvendo política, corrupção e sistema judiciário. Não, eu não estou assistindo TV Justiça, TV Câmara ou TV Senado. O nome é "Stranger", ou "Secret Forest", e é interessante ver a diferença nos costumes. Por conta de um recente problema em meu nervo ciático, até arrepio cada vez que um personagem cumprimenta o outro dobrando o corpo sem flexionar os joelhos. Será que essas dúzias de flexões diárias é que deixam os coreanos tão magrinhos? E olha que nas cenas de restaurante todos comem de generosas tigelas de macarrão! Só se eles perdem metade comendo com dois pauzinhos.
O idioma é muito estranho. O cara pronuncia uma sílaba e a legenda traduzida enche a tela com uma sentença. Aí ele fala uma longa sentença e a legenda diz "Oi”. Já desisti de guardar nomes. Em series inglesas eu sei que John é homem e Mary mulher. Mas como decifrar o gênero dos nomes coreanos? Hwang Shi-mok, Han Yeo-jin, Lee Chang-joon, Young Eun-soo, Yoon Se-won, Kang Won-chul... Se adivinhar quem é homem e quem é mulher você ganha uma garrafa de Soju, que até passarinho coreano bebe.
Outra dificuldade para ocidentais como eu é distinguir pessoas. As adolescentes brasileiras sabem de cor os nomes dos meninos de bandas K-pop, mas nunca sei se eles são vários ou é defeito em meus óculos. Na série, quando um usa óculos e outro não, eu sei quem é quem. Consigo identificar duas mulheres quando uma tem cabelo comprido e outra curto, mas se entra uma terceira eu me confundo. Eles poderiam ter economizado usando o mesmo artista em todos os papéis que eu nem iria perceber.
Não estou sendo racista, pois a mesma dificuldade que eu, ocidental, tenho em distinguir fisionomias orientais, eles têm com ocidentais. Uma pesquisa mostrou que um japonês que vai à Alemanha pela primeira vez acaba achando que alemães são todos parecidos. Viu um, viu todos. Um negro consegue distinguir melhor que um branco as diferentes variações entre povos africanos, pois não são todos iguais. E entre povos orientais eles sabem quem é japonês, chinês, coreano ou tibetano, coisa que nunca sei. Vá para a Índia e você irá achar que são todos iguais, mas não são.
Quando a série for coreana ou chinesa ou árabe ou russa ou islandesa ou de qualquer outro povo com nomes muito diferentes dos nossos, vou sugerir à Netflix duas coisas. Primeiro, que não apenas coloque legendas, mas que obrigue os artistas a usarem crachá. Segundo, que na legenda coloque os nomes dos personagens em azul ou rosa.
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