Ultimamente ando observando meu comportamento, minhas atividades e meu humor. Quando é que me sinto bem? Quando é que me sinto mal? Há muitas atividades ou situações que me fazem sentir assim ou assado — andar a cavalo, por exemplo, me faz sentir assado. Mas vou mencionar apenas três coisas que me dão prazer: acordar cedo, falar e escrever.
A primeira deve ser uma questão de biótipo. Da infância eu me recordo de minha mãe cantando e passando enceradeira às 4 da manhã. Quando atingi a adolescência ela já tinha parado com a enceradeira: estávamos na era do aspirador. Deve ter sido dela que herdei, não o aspirador, mas o bem-estar por acordar de madrugada. Quando acordo tarde fico deprimido.
A outra atividade que me dá prazer é falar. Adoro ensinar, explicar, palestrar. Quando termino uma palestra ou um treinamento — às vezes falando dois dias seguidos, oito horas por dia — meu corpo está um desastre, mas minha alma está feliz. Sinto um prazer indescritível. Portanto, se quiser me ver feliz, é só me contratar.
Não sei se somando esta atividade — dar palestras — com a outra — acordar de madrugada — terei prazer dobrado. Nunca testei. Talvez se você marcar seu evento para as quatro da manhã eu vou descobrir. Será que farei a palestra em estado de êxtase, levitando a um palmo do chão? Não sei, me contrate para descobrir. Para seu público, um evento às quatro da manhã seria a palestra de seus sonhos.
A terceira atividade é escrever. Quando termino uma crônica sinto-me revigorado e rio sozinho das bobagens que escrevo. Falei sobre isso outro dia, sobre os efeitos terapêuticos de escrever, mas foi no sentido de botar para fora seus sentimentos, fazer uma terapia no divã do teclado. Agora descobri que há outra razão para esse prazer, e deve ser a mesma de quando ensino ou dou palestras. Uma razão química.
Estava lendo "Naked Conversations : How Blogs are Changing the Way Businesses Talk with Customers", por Robert Scoble e Shel Israel, quando decidi dobrar o canto de uma página — existe algum nome para dobrar o canto da página? Sim, eu faço isso, pinto e rabisco o livro quando leio, faço leitura interativa. Se alguém for ler depois? Bem vai ganhar uma versão comentada.
Mas sobre o que eu estava falando… ah! sim, sobre a página que li. Lá dizia que o Dr. Gregory S. Berns, professor de psiquiatria da Emory University, descobriu que o cérebro responde a diversos estímulos que cutucam o Striatum, um acessório do cérebro que segrega a dopamina. A substância parece ser liberada em doses maiores quando o dono do cérebro pratica atividades como sexo e jogo, gerando prazer e euforia. Drogas como a cocaína impedem que a dopamina saia de cena, prolongando a sensação de euforia.
Até aí nenhuma novidade. Mas o que chamou a atenção do doutor foi que esse tal de Striatum fica doidão quando a gente ajuda alguém. Isso mesmo, ajudar as pessoas faz o Striatum acordar mais cedo, cantar e ligar a enceradeira para liberar dopamina. Deve ser por isso que me sinto bem escrevendo e ensinando, atividades que, remuneradas ou não, acabam ajudando alguém. O mesmo vale para o trabalho voluntário, a informação dada no trânsito ou o presente que você dá. Em suma: ajudar os outros dá prazer. Muito prazer.
Quanto? Bem, calcule você. Segundo o livro, quando ajudamos alguém o Striatum libera cinco vezes mais dopamina do que a quantidade normalmente liberada em atividades como sexo e jogo. Cinco vezes mais! Deixa o pessoal da terceira idade saber disso e os bingos vão ficar vazios. A onda vai ser tomar uma colher de altruísmo de meia em meia hora, passar pomada de voluntariado e sair por aí ajudando pessoas para ficar ligadão. E sentir prazer, muito prazer.
Mario Persona é palestrante de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional. Seus serviços, livros, textos e entrevistas podem ser encontrados em www.mariopersona.com.br
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