Quando a Internet estava engatinhando no Brasil eu era diretor de comunicação e marketing de uma empresa de TI que mantinha o que era o único provedor de Internet da cidade (depois surgiria outro menor). Para prover o serviço alugávamos os serviços da Embratel que acessávamos via rádio e com um link que hoje está na base da tabela das operadoras de Internet voltada aos usuários domésticos. Eu tenho em minha casa uma Internet com trinta vezes aquela capacidade que atendia toda a cidade.
Na época sabíamos que aquele era um negócio moribundo, como de fato foi, pois as grandes operadoras de telefonia iriam engolir os provedores, como também engoliriam os fornecedores de TV a cabo, como um pequeno que havia em minha cidade e também desapareceu. A tendência seria esta e a uma velocidade cada vez maior, como se o game Pac-Man passasse comendo tudo que estivesse à sua frente.
Os táxis seriam engolidos pelo Uber que será engolido pelo carro autônomo, as fotos de filme engolidas pelas digitais, as locadoras de vídeo engolidas pela Netflix, Amazon Prime e outras, livrarias fechadas por e-books, editoras pelos sistemas de auto-publicação, e eu poderia continuar com a lista porque quando pensasse estar publicando o último item minha lista já teria sido comida por uma lista mais completa.
Tenho gravado em vídeo um curso de oratória que ainda não tive tempo de editar para colocar no mercado por meio de uma provedora de cursos online. Ainda bem, porque já vi que essas empresas também serão engolidas muito logo, à medida que Facebook, Youtube e outras começam a oferecer a possibilidade de produtores de conteúdo cobrarem pelo que publica nelas.
O único atrativo que irá restar para os provedores de cursos online será o fornecimento de um certificado reconhecido como aulas suplementares por algumas escolas, mas isso também se arranja. Outro atrativo poderá ser sua rede de publicidade que alcança um grande público, mas isso também não será atrativo para quem já criou uma rede de seguidores nas redes sociais e é capaz de alcançá-los diretamente. A minha tem mais de meio milhão de pessoas.
No filme "O Escândalo" ("Bombshell") que vi no Amazon Prime, aprendi das ações de funcionárias da Fox News que levaram à queda de seu poderoso Roger Ailes, o ex-presidente da empresa, acusado de assédio sexual e má conduta. Apenas uma das vítimas foi indenizada em 40 milhões de dólares pelas investidas do ex-presidente molestador.
Mas o que o filme tem a ver com o assunto dos negócios defuntos? Bem, em uma cena, quando Ailes faz pressão sobre seus funcionários, ele diz: "Somos o negócio mais competitivo do mundo". Ainda tem gente que pensa assim, mas a imprensa é outra que já entrou na fila do bico do corvo há algum tempo, e só não percebeu isso.
Anos atrás fui sondado por um dos maiores jornais do país para fazer um workshop com seus diretores e gerentes para apontar novos rumos. Eles tinham investido milhões em um novo parque de impressão colorida porque achavam que as novas gerações seriam seduzidas a ler jornal de papel se as fotos fossem coloridas. Pelo jeito eles não gostaram muito de minha proposta e não fui contratado. Talvez tenham contratado um consultor que dissesse que estavam no rumo certo. O resumo do que eu disse em minha proposta está neste vídeo: "Parem as máquinas!" https://youtu.be/Hlwtu5pjJkQ
As tiragens dos jornais impressos despencaram quando as novas gerações deixaram de comprar notícia em papel que muito cedo era transformado em papel de embrulho em açougue. Hoje nem isso, porque a vigilância sanitária pega no pé do comerciante. Além disso o papel virou tela. As rádios perdem espaço para os podcasts e para áudios e vídeos no Youtube. Reparou que as rádios tradicionais transformaram seus estúdios em estúdios de TV e partiram para as redes sociais? Mesmo assim perdem feio para alguns Youtubers mais famosos.
E os telejornais? Bem, assim como não compro jornal há séculos (sim, eu sou velho assim); a TV aberta deixei de lado há muito tempo e os telejornais abertos ou por assinatura eu nem vejo mais. Aliás, dei um fora homérico quando, em uma palestra para uma equipe de uma empresa que vende programação de TV a cabo deixei escapar que eu mesmo já tinha cancelado minha TV a cabo e ficado só com Internet.
Onde vejo notícias? Começo pelo Twitter e outras redes sociais porque é ali que alguém vai compartilhar o que viu acontecer de primeira mão, ou ouviu dizer ou leu em algum site, não interessa qual. Se eu quiser saber mais vou ver no site, não interessa qual, e fico suficientemente informado.
É aqui que você dirá que isso não me dá a certeza de que a notícia seja verdadeira ou fake news, e é por isso que as grandes redes de notícias vão continuar existindo. Sério que você pensa assim tão ingenuamente? Sugiro que assista ao filme para ter uma ideia do que rola nos bastidores das grandes redes de notícias e como são escolhidas ou plantadas as notícias conforme os interesses das companhias.
Isso mesmo, a credibilidade dos grandes telejornais, hoje enfiados até o pescoço em trocas de favores políticos, nunca esteve tão baixa e vai continuar caindo. Até eles criam seus próprios fake-news se isso der audiência, e o melhor comentário que ouvi de alguém é que quando termina o telejornal da maior rede de comunicação do Brasil, e o âncora diz "Boa Noite!", as pessoas agora abrem a janela para conferir.
Mario Persona é palestrante de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional. Seus serviços, livros, textos e entrevistas podem ser encontrados em www.mariopersona.com.br
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